quarta-feira, 31 de agosto de 2011

andarilha




Nos caminhos dos outros fiz descaminhos

Nas curvas dos corpos andei sozinha

No meu próprio corpo impus uma estrada

Derrubei suas entradas...

Deixei sem saída.

Você se atirou, despencou,

Não fugiu!

Prosseguiu.

Eu desesperada quis caminhar em suas estradas

É difícil não ter para onde ir

A mata não foi garimpada

Não lancei vôo, como prometi.

Não traçarei mais caminhos, nem me perderei em descaminhos.

Tampouco andarei os rumos de outros.

Não vou sacrilejar meu corpo com tratores para que possas me encaminhar

Caminhar

deságua


Deseje meu corpo, pois ele arde com suas palavras, sua imagem, seu rosto
Meu corpo se abre com seu olhar na inocente espera de que me possuas

Não podes me possuir, não são coisa que se tenha!
Mas sou corpo que se toca e pega, se penetra
Sou espírito que se alimenta com palavras de desejo Se não me tocas, não me bates, não me comes
Xinga-me, profane minha lembrança, toque seu corpo no mais imundo banheiro de um bar pensando que eu poderia lhe dar lá

Eu saboreio sua lembrança como se meu seio fosse uma boca ávida por alimento

Posso chover só, só de pensar em você

Então rega-me com seu gozo, pois as putas também são flores

E a natureza não faz seu ciclo sozinha
Não me deixe na escassez! Alimente as flores e as putas!
Não permita que eu passe mais uma noite sequer com minhas pernas fechadas Se não podes abri-las, abro para você E quando eu abri-las, não as deixe vazias Há um lugar entre elas, entre nele e afunde

postagem nada nova

Hoje eu diria que eu sei que você sofreu abandonado.
sozinho, foi ficando amargurado.
Depois com ventre estuporado
e o corpo tornando-se calejado,
saiu do seu quarto de dormir.

mas para mim, você foi matreiro
Vi uma alma em cativeiro
preocupada com um corpo,
que é parte de si...
Digo que vi chamas em sua face,
um nebuloso vazio em seu olhar, tantas vezes raivoso.
As chamas, às vezes, eram paixão...
isso quando vinhas encontrar-me só, em meu quarto de dormir.

Foi duro ver-te, companheiro, forjado em tantas máscaras quanto um triste palhaço.
Mas você foi também muito sensato
com sua casa
seu trabalho
e naquele momento, foi o que você podia dar de si.

Então a vaga noção que temos,
da dor que ambos passamos e passaremos,
Ensina que perseverar
é delicado como brotar,
doloroso como nascer,
confuso como o mar em ressacas
Mas ensina também que nascer brotar e navegar
correspondem a um sentido
a um fim

Somos impelidos a cuidar de nós,
Porque somos entusiastas de nós dois
Só nós podemos nos realizar!



grávida

Entraste, saudade
Estranha saudade
Entranha-se em mim, saudade
Emprenha-me de ti, saudade
Estou grávida do que nunca vai nascer

Cita-me ou me excita?



trocadilho bobo,que pareceu bela abreviatura de uma questão feminina.
é tão raro ver referencias à mulheres, principalmente em trabalhos cujos os autores são homens. Raro não é a palavra certa, talvez não haja, talvez eventual seja a palavra. em nossos livros, trabalhos...quantas mulheres citamos em proporção aos homens...isso tudo é bobagem, devaneio,reflexo da divisão sexual do trabalho, enfim...tudo que já sabemos tão bem que continuamos a fazer igual, talvez por ser tão conhecido.
A mulher citada é excitada ou incitada, a mesma coisa da história acima...o protagonismo do pessoal da limpeza ou a historia das mulheres...

não vou me confidenciar



Não havia nada que pudesse explicar melhor o que vivia, senão o nascimento. Enquanto o barco subia o rio, a lua lançava um tapete tortuoso que adivinhava o destino das curvas. As árvores não sabiam se refletiam seu próprio mistério ou admiravam aquele familiar tapete. Ela dizia a si mesma que nascia, mas não sabia se era o devir desconhecido do rio, o calor de suas águas, as sombras que não revelam o que ainda não pode e nem quer ver. Não sabia se o calor do desconhecido lhe confortava ou assustava. Não jogava seu corpo no mundo, estava completamente imersa nele! O conforto do desconhecido lhe dava essa idéia de nascimento. Ou não saber nada de si lhe dava essa idéia de nascimento? Não importava o que fosse, sensações não são explicadas. Ela, embriagada, usava todas as metáforas que lhe vinham à cabeça, mas o que via lhe parecia a melhor metáfora. Muito embora, a lucidez do momento não fosse metáfora nenhuma!

nadar


As mentiras que me conta já não podem mais me magoar.
Decepção aparece antes, como uma enchente destrói os outros sentimentos.
Você me frustra e me castra...
Toda vez que se enraivece fantasiando amor,
Inventando companheirismo,
Brincando de ser adulto.
Eu fico aqui brincando de ser criança,
Uma hora cansa,
Uma hora desinteressa.
Uma hora você não mais importa
E depois desaparece
Na memória confusa se revela um outro.
Esse outro me assusta, não sei se o desconheço ou o conheço demais.
Apenas sei que não é esse outro que eu esperava ver, conviver.
Digo a esse outro que não me procure mais,
Ele reaparece, ele lhe toma todo, me toma o ser amado.
Outro desesperado, outro enraizado, outro amargurado, enfraquecido e embevecido.
Não sabe se existe ou se é produto de alguém que desistiu.
Por outro lado... outrora.
Suas ilusões de amor também me frustraram,
Não posso lhe confidenciar clichês, nem dizer que “mentiras sinceras me interessam”.
Não há mentiras em você...
Correto,
Reto
Frio.
Ainda assim mergulhei como se fosses um rio.
Fiz a água rebolir em meu mergulho
Mas o que amo em você desaparece no instante do pulo.
Você segue reto, frio, correto.
Se você tem a imensidão de um rio... não vou conhecer seu poço profundo
Você segue correto, reto, frio e indiferente a mim.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tarde


Essa tarde agonia pareceu-me sintoma de você
O que amanhece em desejo se curva com a magnitude dos prédios, das ruas.
Diante de tantas pessoas não há nudez, nem intimidade, não há gênero.
Sim, você quase se impõe mais uma vez,
Como se pudesse a pintura desenhar o artista
Contra toda sua ditadura responderei,
Escreverei
Me preparei.
Conheço sua frieza e seu calor
Nem um, nem o outro mais intenso,
Apenas prefiro o calor que respeita a brisa,
jorrando a tempestade
Prepara a terra
Semeia,
Venteia
Chove.
Você cresce mais morre,
Eu também, assim seremos todos.
Assim faremos o tempo até o dia de morrer
Enquanto se vive se faz a morte
Seja por sua pulsão, suposição ou oposição.
Você não é diferente de tudo que vive
E eu não conheço ambos.
Você não me parece fúnebre, mas o que eu escrevo agora também não devia parecer.
Pode não ser o que parece, pode ter um pouco dos dois e de tantos outros mais.
Não importa como, você se mostra como a vida.